Biólogos transformam vírus em assassino de bactérias
Novo vírus identificado consegue interpretar os sinais das bactérias e matá-las "sob comando"

"A ideia de que um vírus detecta uma molécula que as bactérias usam para comunicação é nova", disse Bassler em comunicado. "Justin encontrou um caso natural, e reprojetou o vírus para que pudesse fornecer qualquer estímulo sensorial que ele escolhesse, em vez da própria molécula de comunicação, fazendo com que o vírus mate sob demanda."
No estudo a ser publicado em janeiro no periódico Cell, os cientistas explicam que o vírus só pode escolher uma opção sobre a situação de seu hospedeiro: ficar ou matar. Ou seja, permanece onde está ou aniquila o hospedeiro, dividindo-o em vários pedaços e criando mais hospedeiros. Bassler declarou que há um risco na opção de matar. "Se não houver outros hospedeiros por perto, o vírus e todos os seus parentes morreriam", explicou.
O VP882 encontrou uma maneira de eliminar este problema: ele sente as bactérias próximas anunciarem que estão no organismo, aumentando as chances de que, quando o vírus mata, os vírus liberados encontrem novos hospedeiros imediatamente.
Bassler já havia descoberto que as bactérias podem se comunicar e sentir a presença umas das outras, além de estabelecer um quórum antes de agir em conjunto. Mas ela nunca imaginou que um vírus pudesse sentir esse tipo de comunicação.
"O trabalho mostra que essas moléculas estão transmitindo informações além de suas fronteiras", ela comentou. Os vírus não estão no mesmo ambiente que as bactérias. Na verdade, não estão em nenhum, pois não estão tecnicamente vivos. E de acordo com a pesquisadora, é incompreensível como os vírus conseguem interpretar os sinais das bactérias.

Comunicação
“A ideia de que há apenas um exemplo dessa comunicação entre dois domínios não fazia sentido para nós. Justin descobriu o primeiro caso, procurou mais e encontrou um conjunto de vírus que abrigam capacidades semelhantes", contou Bassler. "Eles podem não estar ouvindo o quórum, mas podem ouvir as informações de seus hospedeiros e usá-las para matá-los."
“A comunicação parece uma característica tão evoluída”, acrescentou Silpe. “É alucinante que organismos tão primitivos sejam capazes de ter comunicação. E os vírus são ainda mais simples que as bactérias. O que estudei, por exemplo, tem apenas 70 genes. É notável que dedique um desses genes ao sensoriamento de quórum."
Biologia
Uma vez que Silpe demonstrou que o VP882 estava "escutando" bactérias, ele começou a usar informações errôneas para enganar o vírus e fazê-lo matar sob comando.
De acordo com o estudo, este vírus não é o promeiro a ser usado como tratamento antimicrobiano – os vírus que atacam as bactérias são chamados de "fagos". Contudo, VP882 é o primeiro fago que usa comunicação para saber quando é melhor matar seus alvos, tornando a pesquisa a primeira a fazer o cruzamento de informações entre organismos diferentes.
O vírus pode ainda ser usado para função terapêutica, visto que não atua como um vírus comum, informou Bassler. A maioria dos vírus só pode infectar um tipo específico de célula. Os da gripe, por exemplo, infectam apenas células pulmonares, e o HIV atinge células específicas do sistema imunológico. Mas o VP882 tem uma ampla gama de hospedeiros.
Até agora, Silpe só realizou testes com três bactérias não relacionadas: Vibrio cholerae (cólera), Salmonela e E. coli.
“A ideia dele era maluca, porque nunca houve evidência de um vírus ouvindo informações sobre o hospedeiro bacteriano para decidir se deve ficar parado ou morto", afirmou Bassler sobre Silpe. "Mas este laboratório foi construído sobre ideias malucas, como bactérias conversando entre si, e nós meio que vivemos disso."
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