Quando o Chile quis vender a Ilha de Páscoa para os nazistas
O país sul-americano precisava de dinheiro em 1937 para comprar dois cruzadores. A revelação está incluída no livro ‘Rapa Nui. Uma Ferida no Oceano’, de Mario Amorós
Rapa Nui ou Ilha de Páscoa, como se chama indistintamente uma das porções de terra habitadas mais isoladas do planeta, havia se tornado parte do território chileno em 1888, mas somente em 1966 o Estado reconheceu-lhe os direitos civis e políticos. Nos anos trinta, quando aconteceram as negociações com a Alemanha nazista, “para o Chile continental a ilha era principalmente um lugar marcado pelo estigma da lepra e, para o poder político, um lugar distante, cedido à Marinha e arrendado para uma empresa privada, com muito pouco valor”, aponta Amorós. Essa percepção explica em parte a decisão do Governo de Alessandri, que ainda sofria os efeitos da crise econômica de 1929 e precisava do dinheiro para reforçar a defesa marítima do Chile: os militares temiam uma aliança militar contra o país unindo Peru, Bolívia e Argentina. A encomenda de oito navios de guerra da Argentina junto ao Reino Unido, feita naquela época, tinha despertado “inveja” na Marinha chilena e na Administração de Alessandri, conforme detalha o livro, razão pela qual estavam determinados a se reforçarem militarmente.
![Moais nas encostas do vulcão Rano Raraku, na Ilha de Páscoa (Chile)](https://ep01.epimg.net/cultura/imagenes/2018/08/01/actualidad/1533134225_284385_1533136324_sumario_normal.jpg)
Fischer encontrou um documento no arquivo do Ministério das Relações Exteriores em Bonn que resumia uma reunião entre o embaixador de Hitler no Chile e o então ministro chileno das Relações Exteriores, José Ramón Gutiérrez Alliende, realizada em 14 de agosto de 1937. Naquele encontro, explica Amorós, a Alemanha nazista buscava confirmar as intenções do Governo chileno de vender-lhe a ilha. Embora não exista qualquer registro dessa conversa no arquivo histórico da chancelaria chilena, como constatou o autor do livro, existem outros documentos que fornecem mais detalhes sobre a operação que o país sul-americano procurava fechar.
![O historiador Mario Amorós](https://ep01.epimg.net/cultura/imagenes/2018/08/01/actualidad/1533134225_284385_1533136450_sumario_normal.jpg)
Nenhuma das negociações secretas prosperou, embora somente se conheçam as razões do lado britânico, explica o autor de Rapa Nui. Uma Ferida no Oceano. “Descartaram a compra da ilha porque consideraram que seu valor, do ponto de vista naval, era escasso. No entanto, Londres e Washington avaliaram que era não conveniente que o Japão, a Alemanha ou a Itália (as futuras potências do Eixo) ficassem com a ilha”, explica Amorós, que em seu livro traça a história de Rapa Nui, com seu inestimável patrimônio cultural e arqueológico, desde a origem de sua ocupação humana até o presente, “quando o povo rapanui busca redefinir sua relação com o Estado do Chile”. O autor refere-se à denúncia que o Conselho de Anciãos do povo Rapa Nui e o Conselho de Chefes da Ilha apresentou em 2015 à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para conseguir a devolução de terras ancestrais e o controle dos recursos naturais.
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